DANÇAS TRADICIONAIS
O gaúcho sempre gostou de dançar, aproveitando os velhos motivos folclóricos vindos com as danças portuguesas desde o desfio da chula sapateada até as tranças bonitas do pau-de-fita.
Além destas inventou danças próprias, nascidas aqui, elegantes e respeitosas, danças que se dividiam em ciclos conforme a época, cada ciclo reuniam danças com características comum.
O primeiro foi o ciclo dos fandangos ou uma série de dança sapateada acompanhadas de canto
e viola: o anu e o balaio, chimarrita, o feliz amor, a galinha morta até as tiranas. Depois veio ciclo
da valsa, com os chotes, as polcas, a mazurca, as marchas, já sem versos e sapateios. Haviam também o ciclo da contra dança com as quadrilhas, polonaise e outras danças de conjunto, cerimoniosas e graves, danças aristocráticas que passaram dos grandes salões para humildade
dos ranchos campeiros. As danças tradicionais foram assim as grandes difusoras da extraordinária expansão do tradicionalismo gaúcho.
O CANCIONEIRO GAÚCHO
O gaúcho sempre gostou de cantar: solito, ou acompanhado de viola e rabeca, a uma voz ou em duas vozes, como se usa no litoral norte do Estado até hoje. E o Estado se orgulha de grandes cantores que hoje são patrimônio emocional de todo Estado, como Teixeirinha, Gildo de Freitas, José Mendes, Os Irmãos Bertussi, os missioneiros como Cenair Maicá, Noel Guarani e os astros brilhantes das Califórnia de Uruguaiana como César Passarinho, Leopoldo Rassier, Edson Otto e tantos outros, que tem descendência, como Teixeirinha Filho, José Mendes Júnior, Waldomiro Maicá e muitos outros. Honra e glória aos teus cantores, Rio Grande, sabiás do pago que nos enchem de alegria e emoção a cada festa. Numa reunião campeira basta alguém abrir alguma gaita de botão ou até apianada, sempre surgirá no seu costado um índio tocando um violão e alguém marcando o compasso no pandeiro gaúcho, que é de origem árabe e que não se confunde com o pandeiro negro do carnaval brasileiro.
Na falta de pandeiro, hoje meio raro nas festas gauchescas, o ritmo é marcado até com duas colheres.
BOLICHO DE CAMPANHA
Á beira de uma estrada, numa encruzilhada qualquer ou na saída de um passo junto a um rio o bolicho de campanha é inflável, feliz mistura de mini mercado com clube social predominantemente masculino. Ali se vende de tudo: secos e molhados, panos de loja, remédios e no balcão um gaudério qualquer pode provar um trago ou presenciar uma partida de truco. O infaltável mate corre em volta, como símbolo da hospitalidade. O dinheiro quase nunca aparece. As compras são feitas a crédito na famosa livreta, na confiança, e o pagamento é feito o mais das vezes de safra em safra.
O bolicho de campanha não fecha aos domingos. Ao contrário, é nos fins de semana que tem sua freguesia mais entusiasmada, quando a peonada esta de folgadas lides da estância. E se o bolicho tem cancha de carreira, então!...
JOGOS TRADICIONAIS
A lúdica campeira é muito variada e mais intensa nos fins de semana, quando a peonada esta de folga nos trabalhos de campo. No bolicho é comum o jogo de truco, ou a primeira, ou o solo, ou o golfo. Muitas vezes o bolicho tem mesa de bilhar. A cancha de bocha tem regras meramente costumeiras, folclóricas, diferentes das rígidas leis das federações de bocha. A rinha de galo é comum apesar das proibições legais. Mas o forte mesmo é a Carreira de Cancha Reta. A mais simples envolve apenas dois parelheiros. As pencas antigamente tinham três parelheiros e as califórnias quatro, cinco e até mais parelheiros. A cancha das carreiras se media em quadras de 132 metros e as carreiras mais comuns se corriam em três quadras. Havia um juiz que dava a largada e no fim do laço ou do tiro, que era a distância assinalada, havia um julgador ou dois, gente de muito respeito e acatamento.
O comércio era grande e barulhento nas carpas, onde se vendia bebida resfriadas, as garrafas de cerveja em grandes buracos tapados com sal grosso e vendia-se galinha assada e pastéis em profusão. O jogo era na confiança, na palavra no mais. E quando a carreira começava havia um grito
em uníssono da multidão que galvanizava a todos: já se vieram!!!
INDUMENTÁRIA GAÚCHA
A indumentária gaúcha tem três raízes fortes. A primeira, é claro, é a indumentária que os colonizadores portugueses nos trouxeram, com suas bragas, ceroulas de crivo, botas fortes, faixa, jaleco, jaqueta, chapéu de copa alta ou de palha, muitas vezes cobrindo a cabeça com um lenço bucaneiro. A segunda raiz é indígena, que nos da o pala, o primitivo chiripá de saia e a vincha prendendo os cabelos. A terceira raiz é a gauchesca, autóctone, que inventa soluções práticas com
os recursos á disposição do gaúcho. Aí surgem as botas de garrão, o chiripá de fralda, a guaiaca, a blusa campeira, o lenço de pescoço e o chapéu de pança de burro. E ainda considerar o poncho de pano, azul e de baeta colorada que possivelmente tem origem marinheira e a bombacha, que é de origem turca e é a peça mais bizarra da atual indumentária gauchesca, tendo entrado no Rio Grande
do Sul com a guerra do Paraguai (1865-1870).
A mulher gaúcha, mais sensível ás mutações da moda não guardou uma indumentária específica tão definida como a do homem gaúcho. No século XVIII a estancieira usava no verão trajes de seda bem
ao estilo ibérico, com sapatos de seda e meias de fios da Escócia, com o infaltável leque, matilha e travessa armando os cabelos. Já a mulher mais pobre, sempre de pés descalços, usava uma pesada saia de algodão e uma leve blusa. Na metade do século passado, no Decêndio Heróico (1835-1845), a mulher gaúcha usava botins, meias sempre, um conjunto de saia e casaquinho, enfeitando o pescoço com um fichu e sempre prendendo os cabelos no caso das mulheres casadas. No fim do século XIX, como já provam as fotografias de famílias campeiras, a mulher já definia o clássico vestido de prenda, que os tradicionalistas pioneiros do 35 CTG vão recuperar e adapta-lo ao tradicionalismo gaúcho depois de uma visita a Montevidéu bem no meio do século XX. Até então o vestido de prenda era curto, logo abaixo do joelho e as prendas de então usavam um grotesco lenço masculino obrigatoriamente. A tese de Antonio Augusto Fagundes aprovado no 8º Congresso Tradicionalista, em Taquara (1961) disciplinou o uso do traje feminino, apontando os quatro trajes fundamentais da mulher gaúcha, encompridando o vestido até a ponta do pé e banindo para sempre o lenço masculino que as prendas usavam até então e banindo bijouterias estranhas e de mau gosto.
CULTO AO RIO GRANDE
O Estado do Rio Grande do Sul tem três símbolos estabelecidos em lei: o Brasão e Armas, o Hino Rio Grandense e a Bandeira Estadual. Os três fazem referência ao Decênio e Heróico e a República que os farrapos proclamaram e que resistiu durante nove anos. O Painel que deu origem ao Brasão de Armas seria uma alegoria desenhada pelo padre Hildebrando e aperfeiçoada pelo major Bernardo Pires, que era maçom e usou os símbolos da maçonaria. Hoje esse Brasão é o centro da Bandeira Gaúcha.
O Hino Rio Grandense tem música de autoria do maestro fluminense Joaquim José de Mendanha e teve três letras. A letra que hoje cantamos, e que oficializada já no século XX é a letra de Francisco Pinto da Fontoura, O chiquinho da vovó. A Bandeira Rio Grandense que os farrapos desfraldaram era quadrada, com o verde e amarelo do Brasil separados pelo vermelho da revolução. Não tinha o escudo que hoje ostenta. Não há solenidade no Rio Grande do Sul sem os três símbolos estaduais, que antes de estarem nos palanques estão no coração de todos nós.
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